No Irã, com a anuência dos aiatolás, o presidente Mahmoud Ahmadinejad comanda o país com mão de ferro. E sempre que algum líder mundial fala sobre Teerã, capital do país, palavras como terrorismo, falta de democracia e liberdade de expressão são as mais comentadas. Mas nada disso atrapalhou a escalada do capixaba Edinho, lá conhecido como Eder Luciano, irmão de Roni Beraldo de Barra do Riacho, no mundo da bola, esse sim, sem fronteiras e distinções.
No Irã há três anos, o meia-atacante, herói do último título do Vitória no Capixabão, em 2006, vive um conto de fadas.
Atuando pelo Mes Kerman, da cidade de Kerman, que fica a 1h30 de Teerã, o capixaba encontrou a felicidade pessoal e profissional. No último campeonato nacional, além do terceiro lugar do Kerman, Edinho foi eleito o segundo melhor jogador. Até prêmio na TV foi receber.
Feliz em terras iranianas, o jogador conversou com A GAZETA, via MSN Messenger. No papo, fez questão de sempre lembrar da tranquilidade que sente vivendo no país, apesar de toda tensão.
Falou também sobre os últimos episódios políticos que envolveram o Irã, com a população saindo às ruas contra a reeleição do presidente Ahmadinejad, quando sequer conseguiu acessar a Internet (que foi bloqueada pelo governo).
Você rodou o mundo jogando futebol. Como é essa experiência de viver diversas culturas através do esporte?
"É verdade. Aprendi muita coisa na minha vida. Isso me fez muito bem em todos os sentidos. Também passei pela Holanda e pela Itália. São muitas coisas diferentes ao redor do mundo. As culturas são muito diferentes. A comida, o fuso horário, as pessoas, os treinamentos... Tudo muda. Já comi cachorro na Coréia do Sul. E nos treinamentos, aqui eles são muito disciplinados e dedicados em tudo o que envolve a preparação. Já no futebol, a força física prevalece, entendi isso e me dei bem, graças a Deus."
Como é a vida no Irã, principalmente por conta dos problemas políticos e atentados terroristas?
"Rapaz... Meu Deus... Estou aqui há três anos já. Agora estou bem mais tranquilo, me acostumei. Mas, quando cheguei aqui, foi complicado. A segurança aqui é fora de série. Eu aqui não tenho nenhum medo de nada, falo isso de verdade mesmo. Só tive problemas com a comida. Com a adaptação."
Mas não se pode falar mal do governo, não é? No mês passado houve muitas manifestações, pessoas foram mortas. Você não passa por esses problemas? O futebol fica isolado?
"Todo lugar tem o seu momento ruim. Mas não passei por isso porque esses problemas aconteceram em Teerã. Eu vivo em Kerman, que fica 1h30 da capital. Por incrível que pareça, aqui vivo mais tranquilo do que vivia em Vitória. Acredita nisso? Não tem assalto, violência... É muito tranquilo mesmo."
Não se pode falar mal do governo, ou não é bem assim?
"Aqui na rua já vi pessoas falando muito mal do governo, do presidente, mas eu fico na minha, não falo nada. Ninguém gosta dele. Mas nunca presenciei algo que saísse do controle."
Você já foi em Teerã? Tem medo quando vai lá?
"Não tenho medo não. Vou em Teerã sempre que posso. Aqui temos lugares históricos para passear. Eu particularmente gosto disso. Os shoppings também são bons. Não tenho medo de atentado terrorista."
Quando houve esse problema político aí, o governo bloqueou a internet no país. Você conseguiu acessar a web e falar com a família. Eles ficaram preocupados?
"Eles bloquearam o acesso. Não consegui acessar MSN, nada... Só conseguia falar com minha família depois de meia-noite daqui, e por telefone. Mas minha família sabia que eu estava bem protegido."
E o futebol daí. Está evoluindo? Ajuda a unir o povo e a diminuir os problemas políticos?
"Eu acredito que sim. O futebol está crescendo muito aqui. É de muita força, correria. Sem brincadeiras e nem querendo forçar a barra, aqui todos me chamam de Ronaldinho e me adoram de paixão. Saio na rua, todos me param para tirar foto. É muito legal."
E como foi o Mes Kerman no campeonato?
"No último campeonato nacional ficamos em terceiro lugar, entre 18 times, conquistando uma vaga para a Copa da Ásia deste ano. Ainda estou de férias, voltamos a treinar no dia 4 de agosto. Este ano fui considerado o segundo melhor jogador de toda a Liga. Fui até na TV receber o prêmio, a bola de prata."
Você pensa em jogar pela seleção do Irã? Pintou algum papo?
"Ainda não pintou nenhuma conversa sobre isso. Mas quem sabe. Se aparecesse o convite, jogaria pelo Irã."
E a questão da religião no futebol? Isso afeta os horários dos treinos. Tem algum problema no vestiário?
"Não atrapalha muito. Mas deu o horário da reza, o cara para o que estiver fazendo e faz as suas preces. Só dentro de campo que não. No vestiário, ninguém troca de roupa na frente de ninguém. Não pode."
Existe outro brasileiro no time? E a língua, atrapalha?
"Tem dois brasileiros aqui no time. Isso ajuda. E também já aprendi um pouco a língua (risos)."
Perfil
Nome: Eder Luciano (Edinho)
Nascimento: 31/05/1982 (27 anos)
Local: Barra do Riacho (Aracruz)
Posição: meia-atacante
Clubes: Estrela, Cachoeiro, Vasco, Atlético Paranaense, Vilavelhense, CTE Colatina, Gil Vicente (Portugal), Bussan (Coreia do Sul), Santo André, Vitória, Macaé, Desportiva, Jaguaré, Massanan (Portugal), Mes Kerman (Irã)
Na Barra do Riacho sempre revelou jogadores bons....
ResponderExcluirAonde esta Ele hj?
ResponderExcluirEle continua jogando no Irã.
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